Pais só aceitam volta às aulas após liberação da vacina para covid-19

Famílias de Belém relatam que consideram um risco muito grande mandar os filhos para aulas presenciais no atual cenário de pandemia

João Thiago Dias
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Diante das incertezas da pandemia da covid-19 e da possibilidade do retorno das aulas presenciais no Pará ainda em 2020, muitos pais já avaliam deixar os filhos fora da escola durante o restante do ano letivo. O receio é associado especialmente à falta de uma vacina para conter a doença. Para muitas famílias, neste momento, estar seguro e saudável são prioridades que deixam o ensino e aprendizagem em um plano secundário. 

Para a técnica em prótese dentária Delma Diniz, de Belém, medidas de segurança nas unidades de ensino não são suficientes diante do atual cenário. Ao lado do marido, David, ela sustenta que os filhos João, de 13 anos, e Geovana, de 10, vão seguir em isolamento por um bom tempo.

"Transmite mesmo sem sintoma. De que adianta aferir a temperatura se mesmo sem febre pode transmitir o vírus? Meus filhos vão ficar em casa. Quando tiver a vacina, uns 20 dias depois, me sentirei mais segura", relatou.

"Eles estudam em um colégio particular pequeno, mas recebem suporte para aulas on-line. O semestre não foi prejudicado. Temos notebook, celular, internet. Dá para aprender as matérias. Mas se as aulas presenciais voltarem em agosto, eles não vão. É retorno de férias e os balneários estavam lotados. E nenhum de nós teve essa doença. É muito arriscado e a saúde vem em primeiro lugar", disse Delma. 

A irmã dela, Rita de Cássia Diniz, que também mora em Belém, concorda com a ideia de manter o isolamento até que a vacina apareça. "Como vou deixar meus filhos irem se aglomerar? Onde que o colégio vai ter condição de separar as crianças. Para os adultos já é difícil, imagina para elas?", questionou Rita, que tem dois filhos, Alcy, de 17 anos, que está no último ano do ensino médio, e Thays, de 20, que está no cursinho preparatório para o vestibular. 

"Eu tenho que trabalhar, por isso saio de casa. Mas na minha família, eu que decido. Eles estão tendo aulas virtuais. E vão continuar assim até que tenha vacina. E recomendo o isolamento sempre que posso. A gente prioriza a saúde. Não vale a pena garantir o estudo e não ter saúde. E ninguém em casa pegou covid-19, por isso o receio de torna maior ainda", finalizou Rita. 

Saúde e educação, um grande desafio

O doutor em Educação João Colares da Mota Neto, que é professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (Uepa), avaliou o desafio de deixar o ensino e aprendizagem presencial diante de um ano letivo perdido por conta da pandemia da covid-19. Ele começou reforçando os números de casos e óbitos considerados altos no Pará e no Brasil.
"Em face da pandemia do novo coronavírus, em que, só no Brasil, mais de 2,5 milhões de pessoas foram infectadas, com mais de 90 mil mortos; e, no estado do Pará, somamos mais de 150 mil pessoas contaminadas e mais de 5 mil mortos, levando-se em consideração apenas os dados oficiais, com significativa subnotificação, segundo várias pesquisas acadêmicas nacionais e internacionais, é de fato um desafio pensar na garantia do direito à educação e, ao mesmo tempo, na saúde da população e das comunidades escolares e acadêmicas", comentou.

"Avalio que não temos que pensar nessas duas questões  - direito à educação e direito à saúde - como dicotômicas, mas relacionadas. Se o risco de contaminação no Brasil e no estado do Pará ainda é elevado, considero uma imprudência que escolas e gestores de sistemas de ensino queiram antecipar o retorno às aulas de forma presencial para agosto ou setembro, como se anuncia, sem controle da epidemia e sem vacina", ponderou. 

Para ele, a vida é prioridade. "Por isso, a meu ver, a preocupação central deve ser o direito à vida, sem a qual não há aprendizado e, por isso, o distanciamento social precisa ser defendido e praticado pela população e incentivado pelos governantes. Nesse sentido, considero que eventuais prejuízos ao aprendizado podem ser solucionados com planejamento estratégico e criativo, mas não podemos expor crianças, adolescentes, jovens e adultos ao risco de contaminação e morte". 

Segundo o professor, alguns questionamentos são fundamentais. "Precisamos ser responsáveis e indagar: quem assumirá os riscos por eventuais mortes de alunos, professores e técnicos em caso de retorno às aulas de forma presencial? A prioridade no momento é salvar vidas, sem o que não se pode pensar em estratégias de recuperação do calendário escolar", finalizou. 

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