Nazaré: o projeto da Belém de todos os tempos

Foi no bairro que muitas das características atuais da capital paraense foram experimentadas

Victor Furtado, Redação Integrada
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O bairro de Nazaré não foi o primeiro de Belém. Esse posto é dos bairros da Cidade Velha e da Campina. Mas foi em Nazaré que muitas das características da capital paraense atual foram experimentadas e implantadas pelo intendente Antônio Lemos. Foi lá que plantaram as mangueiras da Cidade das Mangueiras - ainda que o número dessas árvores venha caindo. Lá se fez vias largas, pensando no futuro da mobilidade. O primeiro molde de transporte público e  o primeiro arranha-céu da Amazônia estavam em Nazaré. E também a igreja da santa que dá nome ao bairro: Nossa Senhora de Nazaré.

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Foi justamente por causa de Nossa Senhora de Nazaré que muitas coisas do bairro levam Nazaré no nome. Avenida Nazaré (que foi estrada de Nazaré), Basílica Santuário de Nazaré, Centro Arquitetônico de Nazaré, Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré... Num passado não tão distante, havia os cinemas Nazaré, que ficavam ao lado do Cine Ópera. Há um supermercado da rede Nazaré. Há linhas de ônibus que levam Nazaré. Moradores e comerciantes do bairro se identificam com isso.

Diferente da movimentação intensa e urbanização que hoje concentra mais de 20 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), todo o bairro já foi só mato e uma estrada. A estrada de Nazaré, a rota Pará-Maranhão. Isso na passagem do século XVII para XVIII, quando só havia os bairros da Campina e Cidade Velha.

A ocupação do que hoje é o bairro de Nazaré começou lenta. É o que relata a pós-doutora em Geografia Maria Goretti da Costa Tavares, professora da Universidade Federal do Pará. De início, somente os mais ricos decidiram construir os casarões, em terrenos mais elevados. A área do bairro era a mais próxima e com mais espaço.

"Eram pequenas fazendas. E imaginar que o bairro de Nazaré já foi a zona rural de Belém", diz a professora. Foi assim que vários casarões começaram a ocupar a área. Os imóveis tinham algumas características europeias. Um dos poucos remanescentes dessa época é a Rocinha, que fica no Museu Paraense Emílio Goeldi, que preservou o imóvel como parte do acervo. A identidade do bairro iniciou com um evento que mudaria a história de Belém e estabeleceria uma fé: o pescador Plácido, no ano de 1700, encontrou a imagem original da Virgem de Nazaré, no igarapé Murutucu, que passava por onde hoje está a travessa 14 de Março.

Ao saberem do fato considerado milagroso, aponta Maria Goretti, os moradores da área e a igreja católica organizaram a construção de uma ermida, uma pequena capela que passaria por várias reformas até se tornar a Basílica Santuário, no século XX. Então a estrada que por lá passava foi "batizada" de estrada de Nazaré. Por lá passavam várias romarias para visitar a ermida e a santa.

A primeira procissão que definiria um dos maiores eventos religiosos do mundo, ocorreu em 1793. Nesse ano, o governador português Francisco Coutinho, maravilhado com as procissões em busca da santa, organizou uma festa para divulgar a devoção que nascia no bairro de Nazaré. Às vésperas da festividade, o governador adoeceu. Fez uma promessa de que, se melhorasse, levaria a imagem, numa procissão, ao Palácio de Governo para uma missa e depois a traria de volta. E esse movimento foi que deu origem ao Círio de Nazaré.

O desenvolvimento do bairro seguia. Ao final do século XIX, no ápice da economia da borracha, a população de Belém, rapidamente, triplicou. Campina e Cidade Velha ficaram pequenas. Todas as pessoas que estavam chegando, buscaram a área do bairro de Nazaré. Só que continuou sendo um destino dos mais ricos e com maior influência da cultura europeia. Ou imigrantes europeus. Foi assim que o número de imóveis com padrão europeu aumentou.

Como nem todas as pessoas tinham condições financeiras de se estabelecer no padrão de vida do bairro de Nazaré, nas áreas mais altas, buscavam as "baixadas", as áreas mais baixas. E assim foram se formando os bairros que hoje são Jurunas, Cremação, parte de Batista Campos e parte do Umarizal. Essa forma de ocupação define até hoje um padrão de vida mais elitizado do bairro de Nazaré.

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