Fortalecimento dos movimentos de mulheres traz esperança de dias mais igualitários

Byanka Arruda

"Nossos passos vêm de longe. Uma sobe e puxa a outra". Com o princípio básico de lutar pela emancipação completa de todas as mulheres e exigir direitos fundamentais que ainda hoje são realidades distantes, os diversos feministas têm ganhado força nos últimos anos nas redes sociais e alcançado cada vez mais espaço na sociedade. Dentro e fora dos lares, escolas, universidades, programas de televisão, ambientes de trabalho,  rodas de conversas entre amigos, palestras, cursos, vestimentas etc. há uma lista infindável de novos desdobramentos que foram pautados pelos discursos feministas recentemente. Com as vozes das mulheres amplificadas e ecoando em todos os cantos, diversos setores sociais se viram obrigados a voltar a atenção para o clamor das mulheres que não mais pedindo, mas exigindo: direitos; respeito; melhores condições de trabalho, oportunidades e equiparação salarial; o fim da violência doméstica, do feminicídio, da violência obstétrica; da cultura do estupro, do assédio; a legalização do aborto de forma segura, gratuita; o fim do racismo; da lesbofobia, enfim, o fim do patriarcado.

Com a popularidade das pautas comuns que perpassam a vida de todas as mulheres em algum momento, resguardando as especificidades de raça, gênero e classe social, os movimentos feministas estão otimistas em relação às próximas gerações de meninas e até mesmo esperançosos com o presente que já tem se desenhado de forma coletiva cada vez mais.

"O movimento feminista é uma pauta que se fortalece ao longo do tempo, ele é histórico. É importante ver o movimento feminista hoje fortalecido, se renovando, colocando pautas que visam a liberdade da mulher, de ser e de estar, de ter direito ao seu corpo, à sua identidade para repensar a sociedade de uma forma mais justa, mais igualitária. O movimento e grupos feministas, quando a gente se fortalece coletivamente, significa que a gente está ali mostrando para as pessoas que é preciso se organizar e pautar o Estado. A gente tem especificidade, singularidades, demandas próprias enquanto mulheres que precisam ser olhadas mais de perto. O 'ser feminista' está muito em pauta e muitas vezes essa classificação como feminista é visto como algo que é um tabu, que é um medo. Tem muita mulher que renega o feminismo por conta dessas deturpações. Quando você está na luta feminista você está nada mais, nada menos dizendo para a sociedade que você precisa de certas condições básicas para poder integrar de forma igualitária e justa a sociedade, mas que você ainda não tem. Você está lutando para existir de forma saudável, de forma justa, de forma igual, lutando por direitos. Daí a importância de se reconhecer enquanto feminista", afirmou a socióloga Rafaela Pinto, do Coletivo Mulheres de Ananindeua em Movimento (CMAM).

Para as mulheres que ainda têm relutância em se reconhecerem feministas, em se identificarem pelas mesmas dores, angústias, lutas e desafios que atravessam a todas, ainda que de modos diferentes, a socióloga  pede mais  prudência para duvidar das tentativas de diminuir a importância do movimento das mulheres e coragem para lutar. "É necessário para essas mulheres mais acolhimento, diálogo. Nós não somos tão diferentes, ao contrário. Nós estamos ocupando espaços que têm as mesmas condições a nos oferecer e não são boas. Ou seja, a gente corre os mesmos riscos, têm os mesmos medos, têm as mesmas dificuldades. A gente diferença de quem se organiza, de quem se classifica como feminista é que a gente conseguiu de certa forma ter uma consciência de que eu não vou conseguir mudar nada sozinha. É a luta coletiva conquista direitos", completa Rafaela.

Mobilizações ganharam espaços virtuais

Por conta da atual pandemia do novo coronavírus, as mobilizações tradicionais de todos os anos em alusão à luta das mulheres, que levavam milhares de mulheres às ruas da capital paraense com faixas e cartazes de protestos e palavras de ordem precisaram ser substituídas por manifestações virtuais, para evitar aglomerações. Ainda assim, a data histórica para as mulheres não passará em branco. Coletivos distintos, espalhados em todo o Pará, estão organizando programações virtuais para reforçar a importância do dia 8 de Março. "A data tem um  papel fundamental no meio de tudo isso a (pandemia), que é o momento da gente se reoxigenar, da gente se juntar, mesmo que distante, se conectar nas redes sociais, fazendo as nossas lives, fazendo a nossa programação do 8 de Março para que a gente se fortaleça. A nossa maior batalha nesse momento é pela vida mesmo. Antes da pandemia as mulheres já eram grupo de risco, sempre foram. Agora ainda mais", afirmou a assistente social Gizelle Freitas, do coletivo Resistência Feminista. 

Ampla Frente Feminista do Pará promove jornada alusiva ao Dia Internacional da Mulher

Estão previstas atividades virtuais e ações descentralizadas em diversas cidades do Estado. Em 2021, a Frente Feminista do Pará completa 10 anos de sua formação e mais de 50 organizações já estão integradas à jornada político-cultural em defesa dos direitos das mulheres e na denúncia contra as crescentes violações na Amazônia brasileira.

Até o dia 14 março, a Frente Feminista do Pará promove uma série de atividades político-culturais alusivas ao Dia Internacional da Mulher, celebrado a cada 8 de março, desde sua oficialização pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975. A maior parte das iniciativas se dará de forma virtual, assim como o próprio ato nacional unificado, reforçando as recomendações científicas, mundialmente difundidas, em prol do distanciamento social para enfrentar a pandemia do novo coronavírus. Estão previstas ainda intervenções artísticas em espaços públicos abertos de algumas cidades e ações informativas descentralizadas nos bairros. Mais de 50 organizações, de bases nacional, estadual e locais, participam da construção da jornada no Pará. 

No Dia Internacional da Mulher, o coletivo promove o Amanhecer Feminista, quando dará visibilidade a uma sequência de faixas dispostas no corredor rodoviário da Região Metropolitana de Belém e navegando, de barco, em um trecho da orla da capital paraense, pela manhã. Haverá ainda o Anoitecer Feminista, com projeção de imagens em espaço público de Belém. Ao longo do dia 8 de março, o coletivo promove também ações de teatro-imagem e intervenção artística nas cidades de Belém e Ananindeua, dentre elas o “Monumento dos sapatos”, expressando a quantidade de assassinatos de mulheres no Pará e no Brasil.

Entre os dias 9 e 14, haverá difusão de mensagens sobre os direitos das mulheres por meio de mídias alternativas, como bike som, rádio poste e rádios comunitárias. E a culminância da jornada se dará no dia 14, quando se completam três anos do assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro. O Festival Feminista será um ato político, lúdico e cultural totalmente on-line, a partir das 16h.

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