Em local improvisado, feira do Guamá enfrenta abandono e lixo, denunciam feirantes
A falta de estrutura do local afasta os clientes e prejudica as vendas dos trabalhadores

Feirantes e consumidores denunciam a precariedade da feira provisória no bairro do Guamá, em Belém. Eles contam que o espaço tem ratos, insetos e baratas. Por causa dessa situação crítica, os clientes se afastaram do local, prejudicando as vendas dos feirantes. Em abril deste ano, os trabalhadores fizeram um protesto. Para chamar a atenção da prefeitura, eles interditaram o cruzamento da avenida José Bonifácio com a avenida Barão de Igarapé-Miri.
Por causa da reforma, os feirantes foram retirados do mercado e colocados em uma feira provisória, que fica aqui na travessa Mucajá, ao lado de onde as obras estão sendo realizadas. Na manhã desta quarta-feira (16), e ao lado de onde há o setor de venda de carnes, havia uma quantidade muito grande de entulhos, prejudicando, inclusive, a circulação das pessoas. Esse local, aliás, é um dos acessos à feira improvisada.
O açougueiro Francisco Pereira Silva Júnior, 31 anos, lamentou a situação em que se encontra a feira. “O lixo amanhece aí todo espalhado. O cliente não quer entrar por aqui, por essa primeira porta (de acesso à feira). Isso é todo dia. Todo dia de madrugada fica a maior lamaceira aí”, afirmou. Ele contou que o recolhimento desses resíduos deveria ocorrer mais cedo, para não prejudicar as vendas na feira. “Isso afeta. O senhor tem uma família e vai passar com a sua família bem aí, com o chão todo melado de caroço, lama? A gente tem que pegar um balde de água e limpar aí, dar uma varrida logo no começo. Então isso afeta muito a nossa venda”, afirmou Francisco. “Esse mercado já era para ser entregue há um bom tempo. A gente necessita. Já passaram por essa obra umas quatro empresas. Agora já quebraram e já tiraram tudo de novo. Aí sai a empresa e vem buscar o material. Aí volta outra empresa. Já desceram o material. Acho que vai vir outra empresa só para buscar de novo e levar embora”, lamentou.
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"Nos sentimos abandonados pela atual gestão”, diz peixeiro
O peixeiro Charles Melo, 53, trabalha na feira há mais de 20 anos. “A situação está precária. Nós nos sentimos abandonados aqui pela gestão atual. O Igor (prefeito Igor Normando) fez uma promessa. Ele disse que ia entregar o complexo agora em setembro. Mas nós não estamos vendo nenhuma ação aí dentro (no mercado em reforma). Ou seja, nenhum trabalhador. Tem material aí, mas não estamos vendo os trabalhadores ativos. Não vemos disposição para cumprir com a promessa”, afirmou.
“Já perdemos muitos fregueses. Eles falaram que esse local não é apropriado para a gente trabalhar. Nossos consumidores estão se afastando por falta de higiene e por o lugar não ser bom para comercializar nosso pescado”, contou. “Fizeram uma promessa de que passaríamos pouco tempo aqui, e já estamos há mais de dois anos”, lembrou Charles. Na área do pescado passa uma vala, como ocorre em outros pontos da feira. Também há água empossada nesse local. “O apelo que a gente faz é para que agilizem mais a obra, para que possamos sair logo daqui e reconquistar nossos clientes. Muitos amigos nossos deixaram de trabalhar, perderam dinheiro, estão na mão de agiotas, porque não têm mais para quem vender. E, aos poucos, sentimos a ausência dos nossos clientes”, disse.
"A gente pisa na água. A gente não aceita isso", diz consumidora de 73 anos
A pensionista Leonildes Araújo, 73 anos, sempre vai à feira para fazer compras. “Olha, querido, pra eu falar a verdade, esta feira está uma calamidade. Horrível, do jeito que vocês estão vendo”, disse. “A gente pisa em água. Não tem condição de viver numa situação dessa. Moro aqui (no bairro) há 47 anos. E, agora, de três anos pra cá, virou esse problema aqui”, contou. “Isso não é aceitável. De jeito nenhum. Tem que fazer um negócio melhor pra gente. Eu, uma pessoa idosa, pisar numa lama dessa... de repente eu caio... Aí dá problema, né? A gente não aceita isso”, contou. “O povo está dizendo que, em setembro agora, vão entregar o mercado pra nós. Eu espero que seja verdade, porque não é fácil. São 3 anos esperando isso. Não tem condição de viver assim”, lamentou dona Leonildes, logo após comprar pescado.
A aposentada Leonita Ferreira da Silva, 81 anos, que também foi à feira na manhã desta quinta-feira (16), estava indignada. “Está uma porcaria”, afirmou. “Venho aqui duas ou três vezes por dia. E não é só eu. Muitas senhoras de idade”, lembrou. “Aí fica essa pouca vergonha o tempo todo, fedor que não se aguenta. O pessoal trabalha aqui porque precisa. Eles trabalham aí naquela lama. É rato, é tudo quanto é porcaria. E a gente não vê solução”, disse.
Dona Leonita disse ter medo de sofrer um acidente por causa do piso irregular e cheio de falhas. “Claro que tenho medo. A gente chega numa idade em que nosso corpo já está fraco. Não tem como ficar numa situação dessa. É uma porcaria. Eles pegam o dinheiro… cadê o dinheiro pra ajeitar isso aí, ajeitar o mercado? Não tem como. Isso é uma pouca vergonha. Estão abusando, fazendo o povo de besta”, criticou.
Por meio de nota, a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria de Obras e Infraestrutura (Seinfra), informou que "as obras no mercado do Guamá foram iniciadas ainda na gestão passada, inclusive com a realocação dos permissionários para a feira provisória". "Quando a atual gestão assumiu, foram necessários ajustes nas obras. Mas os trabalhos já foram reiniciados e as obras no mercado do Guamá devem ser concluídas no início de setembro deste ano", informou a prefeitura.
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