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Pacientes recuperados da covid-19 dão novo sentido à vida

No Pará, mais da metade dos dos casos confirmados tiveram a saúde restabelecida após a doença

João Thiago Dias
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Sorrisos emocionados ainda cobertos pela máscara se intercalando com lágrimas de alívio e gratidão. Assim é refletida a esperança de vida nova para muitos pacientes que conseguiram se recuperar da covid-19. Alguns deles, com quadros mais graves, passaram dias internados no hospital, enfrentando a dolorida saudade dos familiares, e receberam alta com a sensação de vitória. 

No Pará, mais da metade dos casos confirmados de covid-19, o que corresponde a 64,6%, já se recuperou da doença. Até o último sábado (23), de acordo com o boletim da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), já estavam recuperados 15.591 pacientes do total de 24.125 casos que testaram positivo no Estado.

Dentre eles, o aposentado Raimundo Ribeiro, de 89 anos, de Belém, que passou 19 dias internado com tosse, febre, náuseas, vômito, muito cansaço e um quadro de pneumonia. Após a família enfrentar muitas dificuldades para conseguir atendimento em Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e nos pronto-socorros da cidade, a internação foi feita no Hospital de Retaguarda Dom Vicente Zico, no bairro do Marco.

A esposa do neto dele, Esterfany Silva, conta que a idade avançada e o histórico de fumante de seu Raimundo foram grandes preocupações. "Ele fumou há alguns anos e já tinha probleminha de pulmão. Quando foi internado, já estava respirando bem fraquinho e com saturação baixa. O mais difícil foi essa peregrinação atrás de atendimento, porque ele não tem plano de saúde. Quando conseguimos leito, foi um momento muito emocionante, porque não sabíamos mais o que fazer", relatou.

A alta, no dia 15 de maio, foi aplaudida pela equipe de profissionais da saúde diante de comoção. "Ele foi muito bem tratado com médicos e enfermeiros atenciosos. O contato que tivemos foi na portaria ou por telefone com médico e assistente social. Como a gente vê tantas mortes ocorrendo, foi uma vitória devido à idade dele. Toda a família orando e ele voltou revigorado, consciente e mais esperto", comemorou Esterfany.

Já a enfermeira Suenny Melo, 35, de Ananindeua, passou o aniversário dela e o Dia das Mães internada, longe do filho de três anos. Como profissional da saúde, ela sabia os protocolos que deveria seguir, mas, mesmo assim, a dificuldade para conseguir atendimento também foi um desafio. Os sintomas foram vários, como dor no estômago e nos olhos, perda do olfato e paladar, febre, falta de sono, dor no pulmão, tontura, fraqueza, diarréia e dificuldade para respirar. 

image Enfermeira Suenny Melo, 35 anos (Acervo Pessoal)

"Quando adoeci, todos os lugares de urgência estavam fechados. Chegou ao ponto de não conseguir falar nem andar. Ficava muito cansada. Fiquei internada sete dias no Dom Vicente Zico. Cheguei a ficar no oxigênio. Meus parentes não iam lá pela questão de proteção. Me comunicava por celular com uma mensagem por dia, porque não tinha muita força para falar e a vista ficava turva", contou.

"Mesmo sendo jovem e não tendo doença associada, a covid-19 me pegou de forma moderadamente grave. Usar máscara foi determinante para não contaminar ninguém em casa. Ter me recuperado representa milagre, fruto de solidariedade. Sou muito grata aos profissionais da saúde, que, mesmo em semana de caos, eram humanizados”, agradeceu. “Penso como pessoas que não são da área podem estar perdidas. Uso minhas redes sociais para orientar. E sinto que minha recuperação é esperança para quem está sofrendo com parente internado".

A diabetes e a hipertensão são condições de risco para o microempreendedor Helton Pimentel, 57, da capital paraense. Ele passou doze dias internado no Hospital de Campanha de Belém, no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia – Hangar. Mesmo com as comorbidades que podem causar complicações para a covid-19, a alta veio cercada de agradecimentos.

"Senti muita falta de ar e dor de cabeça. Sou diabético e hipertenso, mas estava tudo controlado. Por isso minha recuperação foi tranquila, sem maiores problemas. Fui internado no Hangar, encaminhado por um hospital do Estado. Me comuniquei com a família por meio de videochamada. Graças a Deus, me recuperei. A sensação é de muita felicidade", disse.

image Helton Pimentel (Acervo Pessoal)

No entanto, a alegria de voltar para casa veio acompanhada de sequelas emocionais, inclusive com a perda da irmã dele, que também foi vítima do novo coronavírus. "Infelizmente, muitos não conseguiram. Inclusive minha irmã, que faleceu. O psicológico fica abalado. Físico e mental. Mas estou procurando esquecer essa pandemia e tocar a vida, seguindo as orientações, sempre me cuidando", acrescentou Helton.

Saúde mental merece cuidados após a recuperação da covid-19

A psicóloga Roberta Flores, de Belém, explica que, segundo a Organização Mundial da Saúde, sobre a atenção à saúde mental em contexto de pandemia e emergências, é esperado que sejam vivenciadas sensações de alerta, preocupação, confusão, estresse e falta de controle. Segundo ela, estima-se que entre um terço e metade da população exposta à pandemia possa sofrer alguma manifestação psicopatológica, principalmente quadros de ansiedade e depressão. 

"Caso nenhuma intervenção seja feita, com cuidados específicos para essas reações, as manifestações podem se agravar. A tendência é que tenha proporção maior com a pessoa que esteve doente e que vivenciou situações que geraram angústia, medo ou trauma. Não tem receita de bolo sobre o que fazer, mas é importante estar com familiares e amigos, mesmo que de forma virtual. Pessoas de confiança para que essa pessoa relate o que viveu. Se sinta compreendida", orientou. 

O atendimento especializado por psicólogos ou outros profissionais da saúde se faz necessário quando os sintomas se tornam muito persistentes e quando há sofrimento intenso, alertou Roberta. "Além disso, manter hábitos em casa que tragam a sensação de presentificação, ou seja, de viver o momento do processo de se reconhecer recuperado. Algumas medidas indicadas: prática de respiração, pela meditação ou yoga. Atividades físicas, artísticas ou outras que tragam o prazer e conforto. Cuidar da alimentação e fazer higiene do sono", recomendou.

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