Via expressa do BRT tem risco cotidiano

Corredores da Almirante Barroso e Augusto Montenegro somam 706 acidentes em 6 meses

Dilson Pimentel
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Ciclistas e pedestres se arriscam diariamente ao circular pelas vias expressas do BRT, em Belém. O resultado é a ocorrência de acidentes, como o registrado na terça-feira desta semana. Um homem foi atropelado por um ônibus na avenida Almirante Barroso, entre as travessas Humaitá e Vileta, no Marco. Ele foi socorrido e levado para receber atendimento médico.

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Segundo o Detran, de janeiro a junho deste ano foram registrados 706 acidentes nas avenidas Augusto Montenegro e Almirante Barroso, vias nas quais circulam o BRT. As duas vias respondem pelo maior número de acidentes na capital. Na Augusto Montenegro, foram 425 registros. E, na Almirante Barroso, 281.

Mas o Detran esclarece que os "dados não são referentes aos acidentes ocasionados pelo BRT na via expressa; são dados de acidentes em geral, registrados nessas avenidas". Ou seja, não há como saber quantos, desses acidentes, ocorreram na via expressa. Mas um levantamento feito pela Redação Integrada apontou pelo menos nove ocorrências este ano, incluindo a de terça-feira, com duas mortes. Esse número, seguramente, é maior.

Em poucos minutos, é possível flagrar ciclistas e pedestres colocando suas vidas em perigo nas vias expressas do BRT. Por volta de 9h40 desta quarta-feira, a reportagem flagrou ciclistas trafegando na via expressa na avenida Almirante Barroso com a travessa Mauriti, no bairro do Marco e em direção a São Brás. Nesse cruzamento, aliás, há duas placas afixadas no canteiro central - uma no sentido São Brás e a outra, na direção do Entroncamento. Nas placas, o alerta: "Seja prudente. Não trafegue na via expressa. Risco de morte". 

Pouco depois das 9h53, a reportagem flagrou o ciclista Valdir Almeida, trabalhador de serviços gerais de 51 anos, na faixa expressa do BRT, também nesse cruzamento da Almirante Barroso. "É perigoso. Estou pondo em risco a minha vida", admitiu. "Geralmente, pego a faixa do ciclista (ciclofaixa). Mas hoje foi uma exceção, porque tinha que comprar um remédio aqui perto", afirmou.

Às 10h07, outro flagrante: um ciclista trafegava na via expressa, na Almirante com a travessa Lomas Valentinas, em direção ao Entrocamento, também no bairro do Marco. Logo em seguida, passou um ônibus por essa faixa, bem perto do ciclista. Poderia ter ocorrido um acidente grave. Mais adiante, e em frente ao prédio da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), alunos cruzavam a avenida, passando pela via expressa do BRT. Eles acessaram a pista por uma abertura feita na grade do canteiro central. Nesse local, uma placa informa: "Perigo. Via exclusiva de ônibus expresso".

Esses flagrantes se repetem, aos montes, na via expressa do BRT da avenida Augusto Montenegro. Às 10h37, por pouco não ocorre um acidente. Um homem carregava uma mulher na bicicleta cargueira. Só que transitava na mesma faixa por onde vinha o ônibus. O ciclista ia no sentido Icoaraci e o veículo, na direção contrária. Ele parou a bicicleta muito perto do ônibus. Mas, passado o susto, continuou pedalando na mesma faixa, correndo o risco de, mais adiante, esse episódio se repetir. Ele preferiu não dar entrevista à reportagem.

Esse flagrante ocorreu logo depois da descida do elevado "Engenheiro José Augusto Soares Affonso", no bairro Parque Verde. Ali, é intenso e constante o fluxo de veículos particulares, de ônibus e de motocicletas. Ciclistas e pedestres dizem não ter opções de travessia e, por isso, transitam no espaço destinado ao ônibus expresso. "É perigoso demais", disse Nildson Macedo, ajudante de carga e descarga de 39 anos. "A gente precisa ter muita atenção. Para atravessar agora (para o outro lado da Augusto Montenegro), eu tenho que ficar bem no meio ali (exatamente na via expressa), para poder chegar do outro lado", disse ele, que mora na avenida Independência. "O sinal está longe. Aliás, nem sei onde fica o sinal para atravessar", contou. 

O semáforo está instalado a aproximadamente 800 metros dali, no sentido Icoaraci. "E a gente tem que atravessar para pegar o ônibus e ir para o trabalho", disse. Estudante de Engenharia Mecânica, Patrick Michel, de 26 anos, também pedalava pela via expressa. "É bastante perigoso. Mas a gente não tem outra opção. Preciso ir ao supermercado", disse. "O cuidado é desviar mesmo do carro", afirmou ele, que passa por aquele local todo dia e mora no Benguí. Amintas Moraes, de 56 anos, também pedalava na faixa do BRT. "Nós tínhamos uma faixa pra gente. Não tem mais. E não temos para onde correr. É por aqui mesmo", disse. Para não ser atropelado, ele contou que olha nos dois espelhos que colocou em sua bicicleta e, assim, observa a aproximação do ônibus. "Todo dia passo aqui", acrescentou ele, que atualmente está sem emprego. Segundo Amintas, é mais seguro pedalar na via expressa, "porque o ônibus demora pra passar", que na avenida por onde trafegam os veículos. Por ser uma via expressa, ônibus circulam em velocidade.

A Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) informou que realiza diversas ações educativas ao longo do ano. No final de setembro, por exemplo, houve uma extensa programação durante a Semana Nacional de Trânsito, onde questões relacionadas à segurança no trânsito, respeito à sinalização e prevenção de acidentes foram abordadas. "Além disso, temos também ações regulares dentro das escolas públicas e privadas do município, focando no novo condutor. As ações educativas da Semob buscam englobar todos os atores do trânsito - motoristas de carros, motos, ônibus, ciclistas, pedestres, etc, com ações especiais para que cada um assuma seu papel para que o trânsito seja mais seguro", informou, em nota. 

 

 

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