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Combu seduz gente de todo o mundo

Além da comida nativa, a ilha oferece contato com o espetacular ecossistema amazônico

João Thiago Dias
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O complexo gastronômico da ilha do Combu, localizado a 1,5 quilômetro ao sul da cidade de Belém, na margem esquerda do rio Guamá, se tornou exemplo de sucesso nos últimos anos, atraindo turistas de várias partes do mundo em busca de lazer em contato com a natureza. Cerca de 35 restaurantes distribuídos ao longo da ilha oferecem variados cardápios, alguns com opções veganas, além de trilha, rapel, banho de rio, redário, lojas artesanais, música ao vivo e outros itens turísticos de acordo com a demanda. 

Cada estabelecimento tem horários e dias específicos de funcionamento, mas a maioria abre as portas para os clientes de sexta-feira a domingo e aos feriados entre as 10h e o fim da tarde. A travessia pode ser feita de Belém para os restaurantes, em barcos ou lanchas, a partir do porto da praça Princesa Isabel, na Condor. A passagem custa R$ 7. Como não é fácil andar pela mata da ilha, para ir de um restaurante a outro também é necessário pegar alguma embarcação, pagando o mesmo valor. 

Esse foi o passeio realizado pela advogada Gleia Fernandes e pela mãe dela, Rita Silva, na primeira sexta-feira deste ano. Moradoras do município de Ananindeua, elas se tornaram visitantes frequentes da ilha por conta da paisagem e da proximidade com a cidade. "Conhecemos um restaurante a cada visita. É bom pela tranquilidade, pelo banho de rio, porque é perto de Belém. Adequado para famílias desfrutarem dessa vista incrível com rio e igarapé. Tão dentro da natureza, mas tão perto da cidade", apontou Gleia.

image Rita e Gleia (Fábio Costa / O Liberal)

 

 

Futuro

O médico João Matos, que nasceu em Belém e mora fora do Estado há muitos anos, conheceu o Combu na primeira sexta-feira deste ano e se surpreendeu com a estrutura dos empreendimentos. "Olhava o Combu lá de Belém e não tinha ideia como funcionava. Foi uma surpresa essa recepção ao turista em toda a ilha. O turismo é o futuro porque é uma fonte altamente renovável. Faço aniversário no mesmo dia do aniversário de Belém e defendo minha terra em qualquer ponto do mundo em que estiver".

Para fidelizar cada vez mais os clientes e para expandir o alcance dos negócios, os donos dos restaurantes capricham na criatividade. Em alguns estabelecimentos, foram construídos flutuantes que simulam piscinas, utilizando a água do rio. Além disso, a decoração é colorida e chamativa em muitos trapiches. Outro investimento, mas que ainda está em fase de planejamento e construção em alguns restaurantes, são os chalés, que surgiram diante da demanda dos clientes que pedem para dormir na ilha. 

De acordo com a chef Kelli Quaresma, do restaurante Saldosa Maloca, o mais antigo da ilha, desde 1982, a mão de obra da ilha se tornou insuficiente em meio a tanto sucesso. "Como o fluxo cresceu significativamente, a mão de obra da ilha ficou comprometida. Não foi possível manter apenas a mão de obra local, apesar de que, inicialmente, nossa intenção era oferecer renda apenas para a comunidade, que fica com dificuldade financeira quando não está na safra do açaí e do cacau, que fazem parte da cadeia produtiva daqui".

Maiorana

Percebendo a necessidade de se integrar ao meio urbano, ela conta que muitos estabelecimentos investem em embarcações próprias para facilitar o deslocamento da clientela. "Estamos preparando um barco para começar a fazer travessia ainda este ano. Inclusive, vamos batizá-lo de Comodoro Romulo Maiorana, em homenagem ao Romulo Maiorana, que era comodoro do Iate Clube e muito amigo do meu pai, José dos Santos, um dos fundadores do Saldosa", explicou Kelli. 

Além disso, o trabalho nas redes sociais e os pratos com opções veganas também representam um diferencial para despontar como empreendimento. "Temos um trabalho muito forte nas redes sociais, onde percebemos que 60% dos nossos clientes são de outros Estados. Costumamos oferecer pacotes turísticos diferenciados de acordo com cada pedido de agendamento. E temos a preocupação com opções veganas, como salada, moqueca, que em vez de peixe leva legumes com banana da terra ou palmito com coco, e caldeirada, com legumes e molho de tucupi", detalhou a chef.

Restaurantes do Combu buscam sustentabilidade 

A sustentabilidade é um forte desafio para os moradores da ilha do Combu, que ainda ensaiam a criação de uma associação que represente os restaurantes em busca de melhorias para todos. No Saldosa Maloca, que tem 38 anos de história, esse desafio é encarado com separação de lixo, aproveitamento de recicláveis, além de quatro biodigestores, que transformam resíduos orgânicos em gás para a utilização na cozinha, conforme contou a gerente do estabelecimento, Denise Lameira.

"Os biodigestores foram investimentos caros que vieram de Santa Catarina. Com esses quatro, temos uma economia de 30% no gás. Mas ainda está longe da quantidade que pode suprir nossas necessidades, pois teríamos que ter mais uns 15. A gente coloca os resíduos orgânicos dentro desses espaços que lembram grandes barracas. Daí o processamento feito dentro gera gás, que utilizamos para cozinhar, além de biofertilizante, que utilizamos na nossa horta", explicou Denise.

image Além da comida nativa, a ilha oferece contato com o espetacular ecossistema amazônico (Fábio Costa / O Liberal)

"Abrimos mão de muita coisa do cardápio. Não trabalhamos mais com garrafas de água mineral. Oferecemos água no copo eco, que o cliente pode levar para repor com refil. Deixamos de transformar em lixo cerca de 500 garrafinhas por mês. Abolimos canudo de plástico e usamos apenas o de papel. Temos parceria com uma cooperativa de Icoaraci, que recebe nosso resíduo reciclável", disse a gerente. "Nosso maior desafio ainda é o vidro. Mas tentamos aproveitar. Fizemos até árvores de Natal com garrafas de cerveja".

Outro investimento para este ano será em placas de energia solar. "Já entramos em contato com uma empresa para fazer o orçamento. Estamos pesquisando valores para comprar as placas solares e implantar ainda em 2020. Temos essa preocupação com o futuro da natureza porque vivemos cercados por árvores e pelo meio ambiente. Temos que cuidar para que possamos conseguir crescer de forma sustentável", disse Denise. 

Sabão de óleo

Com menos de um ano de funcionamento, o restaurante Flor do Combu também já se tornou exemplo de sustentabilidade direcionando o restante do óleo de cozinha para a fabricação de sabão, conforme informou uma das proprietárias do espaço, a enfermeira Rita Pantoja, que destacou que esses detalhes fazem a diferença para que o cliente perceba que a preocupação ambiental reforça um empreendimento vitorioso. 

"Já fazemos nossa parte realizando a separação adequada do lixo. O nosso óleo, a gente manda para uma pessoa conhecida de Belém, que trabalha produzindo sabão com este tipo de substância. Mas ainda precisamos de uma associação que possa buscar um projeto para orientar todas as recomendações que devemos seguir. Falta esse tipo de padronização de esclarecimento, porque temos dificuldade até para ficar atravessando de barco para levar o lixo para ser recolhido em Belém", contou Rita.

Com uma proposta de acolher clientes como se eles estivessem almoçando em casa de família, o restaurante oferece, também, mesas decoradas com vasos adaptados de garrafas de vidro e lâmpadas enfeitadas com garrafas de plástico. Para a enfermeira, toda essa preocupação com a sustentabilidade se fortaleceu a partir do momento em que ela e o marido dela, Wilonson Silva, foram morar na ilha por conta do trabalho. 

image Wilonson e Rita (Fábio Costa / O Liberal)

"A ideia de fundar o restaurante foi quando meu marido ficou desempregado. A gente usou o dinheiro da indenização para montar tudo. E deu certo. Viemos de Belém para morar aqui. Agora, temos mais sensibilidade com a vida de quem mora aqui. Nada de jogar lixo no rio nem nas matas. Além de crescer e mostrar que o Combu é um lugar que deu certo, queremos fazer algo por esses ribeirinhos, como ações de saúde no espaço do restaurante, por exemplo", destacou.

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Belém
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