Análise da comunicação contribui com garantia de direitos

Ao participar da programação de abertura do Encontro de Pesquisa em Comunicação na Amazônia (EPCA), no auditório do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal do Pará (UFPA), nesta quarta-feira (20), o professor e pesquisador baiano Muniz Sodré, da UFRJ, destacou que a  análise dos processos de comunicação por parte da sociedade civil é uma ferramenta para a garantia de direitos e a mobilização pela justiça social.

O evento prosseguirá até sexta-feira (22) e é organizado pelo Programa de Pós-Graduação de Comunicação, Cultura e Amazônia da UFPA e Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura da Universidade da Amazônia (Unama). Antes de proferir a palestra de abertura do EPCA, o professor Muniz Sodré concedeu entrevista à Reportagem de O Liberal.

Veneno

Sobre o uso da comunicação como instrumento de dominação ou como meio focado na defesa da cidadania e democracia, Sodré destacou: “Olha, talvez uma boa palavra para você equiparar a comunicação seja pharmakon, que em grego quer dizer veneno, mas quer dizer remédio, também. É ao mesmo tempo instrumento de dominação, está cada vez mais nas mãos dos grandes administradores de dados, grandes monopólios de dados; por outro lado os governos, no outro tipo de tratamento da comunicação, se apropriando das máquinas ideológicas e da mídia tradicional procura dominar, decidindo eleições; mas, ao mesmo tempo, é remédio, porque as possibilidades de resiliência, de resistência vêm hoje também de uma abertura dos canais tradicionais, por redes”.

“É preciso entender que a sociedade civil só pode ser reorganizada  a partir da comunicação, não fora dela. Hoje, a indústria do Século XXI é a indústria de dados, da comunicação”, enfatizou Muniz Sodré. Ele observou que um partido político que pense que comunicação é máquina apenas ideológica, não entendeu esse lado pharmakon da comunicação. “Isso vale para partidos políticos, valeu para o PT que eu acho que nunca entendeu direito a questão da comunicação, e vale para o Governo atual, que está se perdendo em uma coisa fundamental na comunicação, a credibilidade, se afundando na rede”, ressaltou.

Sodré observou que há muitos discursos falsos no contexto de comunicação em voga no País, como a dicotomia relacionada ao comunismo,  e nesse sentido a contraposição esquerda e direita é falsa. “Mas essa dicotomia entre o lado progressista e extrema direita, isso é verdadeiro, não é fake news”. Sobre o tema “A Sociedade Incivil”, Muniz Sodré afirmou que é “a sociedade civil de cabeça para baixo”, ou seja, “é a sociedade sem representação parlamentar, a democracia ameaçada, instituições como escola, cultura, saúde ameaçadas no Brasil”.

Negro

No Dia da Consciência Negra (20 de novembro), o pesquisador afirmou que “o movimento negro é o mais antigo na sociedade brasileira, mais antigo até que a própria luta pela terra, embora a da terra seja a questão social por excelência; e o movimento negro enfrentou momentos de instabilidade, mas está aí, os negros estão colorizando a paisagem das universidades, nessas políticas afirmativas que o Governo Lula fez, não de baixo para cima mas de cima para baixo, porque movimento aflora e não para mais”.

A comunicação pode criar condições para que se possa entender que o que efetivamente funciona na vida do cidadão comum não é o abstrato da sociedade, o Estado-Nação, “mas é a comunidade, é o local”, “Toda política é local e toda resistência é local; quando você pede socorro tem que ter alguém para ouvir a sua voz; comunidade é importante’. Mais informações sobre o EPCA.