Conheça o enredo que as escolas de sambas levaram para a Aldeia Amazônica
Agremiações apresentaram do carimbó da Dona Onete ao trabalho infantil
1 - MATINHA
“A Matinha vem cantar, entra roda, vamos se jogar, vamos brincar...”. Com esse refrão, que todos na avenida reproduziam, a Escola de Samba da Matinha, do bairro de Fátima, empolgou o público da Aldeia Amazônica já no início da manhã deste domingo, 24.
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Neste ano, a escola apresentou o trabalho infantil como tema do desfile, escolhido por meio de uma parceria com o Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT8). Com o enredo “No ninho da coruja, a criança e o adolescente têm o direito de sonhar”, a agremiação levou cerca de 1.500 brincantes para a avenida.
A realidade do trabalho infantil no Estado do Pará e no Brasil foi retratada de uma forma lúdica nas alas da escola e nos carros alegóricos. Do navio negreiro, retratando o período de escravidão, ao trabalho de crianças em sinais de trânsito nas ruas das cidades, nos dias atuais. O primeiro casal de mestre-sala e porta bandeira deram um show na coreografia e mostraram samba no pé.
"A Matinha é a minha escola do coração, é tradição na minha família, a minha bisavó já fazia parte. Hoje toda a família está desfilando pela escola”, destacou Paula Malcher, 33, moradora do bairro de Fátima. “Estou muito emocionada e ansiosa. A Matinha está muito linda”, completou.
A comissão de frente apresentou um show de malabarismo, deixando o público presente sem fôlego, com crianças em uma coreografia bem ensaiada.
A Fundação Papa João XXIII (Funpapa), órgão assistencial da Prefeitura de Belém, que no dia-a-dia trata do combate ao trabalho infantil, contou com uma ala especial na agremiação.
A escola levou, ainda, para a avenida, a parte da pureza infantil, com brincadeiras, bonecas de pano e personagens infantis. Fechando o desfile, uma grande coruja surgiu no último carro alegórico da escola. “Um turbilhão de sentimentos nos envolve e faz do nosso desfile esse mar de felicidade”, disse emocionado o presidente da Matinha, Rodolfo Trindade.
2 - QUENZÃO
A Associação Cultural Recreativa Carnavalesca Império de Samba Quem São Eles entrou na Aldeia Amazônica por volta das 4h deste domingo, 24. E para avisar que a avenida estava sendo tomada pela escola do bairro do Umarizal, a imagem de uma águia, símbolo da agremiação, veio abrindo o desfile.
O universo místico da região marajoara foi o tema escolhido com o enredo “Paracauary: Entre Soure e Salvaterra, povos, territórios e encantarias”. Foram mais de 1.500 brincantes, divididos em 14 alas e três carros alegóricos, que trouxeram maquiagens perfeitas e muito movimento.
A ideia, de acordo com a agremiação, foi a de mostrar um Marajó jamais visto, desde os seus antepassados até as lendas mais conhecidas. O destaque do Império foi o tamanho das esculturas dos carros alegóricos, cobra grande, mula sem cabeça e um jacaré vieram em tamanhos bem grandes, impressionando o público. Até um carro alegórico em formato de caravela portuguesa foi apresentado.
“Foram meses de ensaios e dedicação e hoje viemos mostrar todo esse trabalho”, comenta Letícia Oliveira, rainha de bateria da escola Quem São Eles.
As alas destacaram os povos que habitaram a região marajoara, como os índios, portugueses e espanhóis. Um momento curioso foi a coreografia apresentada pela bateria, surpreendendo e empolgando o público.
“Cheguei na Aldeia por voltar de 1h, para ver a ‘Quem São Eles’, escola do meu coração. Me senti segura com a quantidade de guardas municipais que vi no local. Eu tô muito empolgada para assistir o desfile", completou Tamara Ramos, 37, moradora do bairro da Sacramenta.
3 - RANCHO
O atual campeão do Carnaval de Belém, o Grêmio Recreativo Jurunense Rancho Não Posso Me Amofiná, entrou na Aldeia Amazônica levando o samba-enredo “Made in Barcarena – Eu canto o encanto do teu universo” buscando o 23º título da escola do bairro do Jurunas.
Nem a chuva desanimou os mais de dois mil brincantes, que trouxeram fantasias coloridas e abrilhantaram o desfile da escola de samba mais antiga de Belém. A comissão de frente veio falando dos ancestrais que habitaram o município de Barcarena, no nordeste paraense, todos vestidos de índios eles encenaram se esconder em alegorias que lembravam uma oca. Uma coreografia bem ensaiada que animou e empolgou todos os que assistiram o desfile.
"Eu tô muito feliz de ver a escola do meu bairro. A animação tá lá em cima para ver o Rancho na avenida. Eu acompanho e torço desde pequena", contou animada Maria José Peche, 45 anos.
O Rancho levou para a avenida três carros alegóricos. O segundo carro, homenageando o mestre Vieira, trouxe uma escultura gigante do mestre e criador da guitarrada.
A ala das baianas levou para a avenida as cores da fruta que é símbolo da cidade, o abacaxi. A sexta ala do Rancho mostrou as belezas naturais de Barcarena, as praias. Os brincantes levaram alegorias com o sol como parte da fantasia.
Um dos momentos de vibração do público foi a tradicional e esperada “paradinha da bateria”, que trouxe como madrinha, Valesca Furacão. “Venho representando a Deusa da Tempestade. Esse ano, em especial, estou muito orgulhosa da minha escola e emocionada por estar à frente da bateria. São oito anos de Rancho, oito anos de amor", completa Furacão, como gosta de ser chamada.
A saudade de Félix Carlos Lopes, vice presidente da escola de samba, morto em janeiro deste ano, não foi esquecida pelos representantes do Rancho. “A emoção é indescritível. Nós perdemos dois parceiros, a saudade fica e estamos aqui por eles, sei que estão felizes vendo a escola passar”, diz o carnavalesco Jango Vidal.
“O Rancho sempre vai ser protagonista dessa história e hoje nós estamos cumprindo o nosso papel. Estamos aqui para sermos campeões”, finaliza o presidente do Rancho, Fernando Guga.
4 - IMPÉRIO PEDREIRENSE
Alô bateria! Rufaram os tambores e soaram os clarins anunciando a primeira agremiação da noite. A Embaixada de Samba Império Pedreirense abriu o segundo dia do desfile oficial do Carnaval de Belém, na Aldeia Amazônica, na noite deste sábado, 23, celebrando no enredo “As nobrezas tribais nas bodas da Imperatriz” três escolas de samba muito queridas: a Imperatriz Leopoldinense, do Rio do Janeiro (RJ); o Rancho Não Posso Me Amofiná, de Belém, e o próprio Império Pedreirense, enchendo a avenida de cor e motivos tribais africanos, dando início às atrações do 1° grupo das escolas de samba.
Com mais de mil integrantes, a escola apresentou na comissão de frente vários guerreiros africanos coreografados em danças tribais, com lanças e tambores, e na ala seguinte exibia uma representação dos orixás. No carro abre alas, vários guerreiros e orixás. E o que mais chamou atenção foi o segundo carro representando um grande crocodilo.
"Nossa expectativa é muito boa porque subimos de grupo. Vamos tentar nos manter ou até mesmo, sermos campeões", disse Ras Margalho, de 65 anos, que desfilou na ala do Curica.
Tádia Guimarães, de 23 anos, está à espera do segundo filho, e mesmo com a barriga de cinco meses, o samba no pé esteve garantido para seguir o desfile pela escola. “Tô muito feliz. Essa foi a primeira vez desfilei grávida na escola de samba. Esse lugar está contagiante”.
As 13 alas seguiram coloridas em tons que foram do vermelho, amarelo, laranja, passando pelo azul e verde. A cantora Gigi Furtado e o cineasta Rogê Paes foram atração, sambando no chão.
O Império Pedreirense também trouxe integrantes da escola Imperatriz Leopoldinense, que foram reconhecidos pelo público e arrancaram muitos aplausos.
5 - GRANDE FAMÍLIA
A Associação Carnavalesca A Grande Família foi a segunda escola a entrar na passarela do samba da Aldeia Amazônica na noite deste sábado, 23, com o enredo “Sobre o Mito da Cidade de Ouro, Carajás, o Eldorado é aqui!”, que fez um passeio que começou no mito do Eldorado, a cidade coberta de ouro, como conta a lenda, chegando à riqueza atual das minas de Carajás, no município de Parauapebas, em uma grande onda dourada que encheu a avenida de muita luz.
A comissão de frente já mostrava riqueza sobre a qual o enredo falou, com integrantes cobertos de dourado, representando guerreiros indígenas. Um dos passistas fazia coreografias sobre um tripé, cercado de lanças.
Logo após a comissão de frente, a Grande Família inovou já apresentando a ala das baianas que veio toda vestida de dourado.
José Marcos, 48 anos, e porta-estandarte da Grande Família, concluiu o desfile satisfeito com o que apresentaram na avenida. "Quanto mais interação com o público, mais me sinto feliz, porque a gente se prepara para isso".
A escola levou 1.500 brincantes, distribuídos em dez alas, e três carros alegóricos, sendo um deles um grande navio no qual os descobridores dos grandes mares chegaram ao Brasil. O segundo carro representava um trem, que remete à estrada de ferro de Carajás; e o último carro mostrava uma volta à natureza dos índios Carajás, com árvores, animais selvagens e uma cachoeira estilizada.
Dona Isaurina Dias, 74 anos, foi um exemplo para os demais brincantes da agremiação. "Já estou saindo pela quinta vez, comecei aqui por incentivo de uma amiga, mas agora não desgrudo mais", contou ela que saiu na ala das baianas.
Um detalhe chamou atenção do público que foi informado por meio de plaquinhas de identificação de casa setor do desfile. Outro detalhe foi a bateria com 170 ritmista que vieram vestidos a caráter como os operários das minas de Carajás, vestindo uniformes em laranja e capacetes também em dourado.
6 - DEIXA FALAR
Um desfile utilizando máscaras dos mais variados formatos e cores e em tom de brincadeira. Assim foi o desfile da Grêmio Recreativo e Carnavalesco Deixa Falar, a terceira escola a passar pela passarela da Aldeia Amazônica. Com o enredo “Charivari - Pantagruel, Gargântua e o Papagaio Contra o Demônio Azul”, a escola buscou ecos dos carnavais tradicionais, como o de Veneza, na Itália.
A Deixa Falar é uma escola do bairro da Cidade Velha, que levou para a avenida 800 integrantes em nove alas e três carros alegóricos. O primeiro casal de mestre sala e porta bandeira estava vestido como autênticos participantes do carnaval veneziano.
A comissão de frente chamou bastante atenção porque os passistas usavam figurinos em tons de azul claro, carregando grandes leques e cadeiras, onde se sentavam e faziam as coreografias ensaiadas.
No segundo carro alegórico, brincantes utilizaram máscaras aos moldes das usadas na série televisiva “La Casa de Papel”, e a Ala das Baianas utilizou as tradicionais mantilhas de rendas e leques espanhóis.
A dona Engracia Andrade, 66 anos, ganhou um espaço privilegiado para assistir à passagem das escolas. “Minha amiga fez o convite para assistir os desfiles aqui na porta da casa dela, e eu adorei a ideia, porque além de me sentir a vontade, a segurança está muito boa”, elogiou o evento e a presença dos Guardas Municipais de Belém que estão garantindo a ordem no local.
Uma sequência de alas remetia a frutas como caju, uvas e abacaxis. Já a bateria trouxe como adereço cabeças de cavalos, como adorno.
Um detalhe que agradou ao público foi que no time de puxadores de samba enredo estavam quatro cantoras, que encantaram pela voz potente, junto com seus parceiros do time masculino.
7 - BOLE-BOLE
Apesar de ser uma das escolas de samba mais recentes de Belém, a Associação Carnavalesca Bole Bole, criada em 1984, fez bonito na passarela da Aldeia Amazônica, quando foi a quarta escola a desfilar na noite deste sábado, 23. A agremiação trouxe um enredo que fez um paralelo entre as tradições africanas e as do bairro do Guamá - de onde a escola é oriunda - no enredo “GuamÁfrica”.
Logo que a escola entrou na avenida, a chuva, que até então não tinha caído durante a noite, começou a dar ares de chuvisco, mas nada atrapalhou o desfile da Bole Bole.
A comissão de frente da Bole Bole fez menção aos rituais da religiosidade africana, com uma coreografia que remetia a essas celebrações.
A escola trouxe 1.200 brincantes, distribuídos em 10 alas, com 160 ritmistas na bateria e três carros. A ala das baianas veio toda em branco e verde, com detalhes em palha no vestuário. Uma das alas das passistas trazia detalhes de dentes de animais e muita pedraria nos enfeites.
Um dos carros que mais chamou q atenção foi o da Mãe África que trouxe uma escultura, com cerca de três metros de altura, exibindo de uma negra africana, com um bebê nos braços, que se movimentava em 360 graus.
As duas últimas alas fizeram referência ao tradicional Boi Bumbá paraense, com os personagens Catirina, o próprio boi e o matador do animal. O último carro exibiu o colorido dos cordões de pássaros, típicos do estado do Pará, reforçando ainda mais o tom regionalista empregado pela escola Bole Bole.
8 - PIRATAS DA BATUCADA
O carimbó entrou na avenida do samba com o Grêmio Recreativo Esportivo Social Piratas da Batucada. “Chameguei Onete!” foi o enredo da agremiação que homenageou a cantora paraense Dona Onete.
Mais de 1.500 brincantes, divididos em oito alas e três carros alegóricos, passearam pela história da artista paraense e pelo ritmo que alavancou a carreira da cantora, o carimbó.
A comissão de frente trouxe um pouco do folclore do Estado do Pará, com um artista interpretando o boto, famoso pelas lendas do interior. Uma ala inteira homenageou o carimbó, os brincantes vestiram os trajes típicos do ritmo, a saia rodada e o chapéu de palha.
A ilha do Marajó, local de nascimento de dona Onete, não podia ficar de fora. O segundo carro alegórico trouxe símbolos da ilha, como o búfalo e os vasos marajoaras. Katia Monteiro, 51, é vizinha da cantora e trouxe os netos, as gêmeas Samyra e Samara Monteiro, para participar do desfile. “Espero o primeiro lugar da escola. Dona Onete merece isso e muito mais. Comecei a torcer pela escola por causa dela, ela é como uma mãe pra mim”, destacou a carnavalesca.
O colorido predominou no desfile. Fantasias azuis, verdes, vermelhas e amarelas, proporcionaram um lindo visual. A surpresa da apresentação ficou para o último carro, além da presença do famoso “Urubu do Ver-o-Peso”, personagem de música da artista, a própria Dona Onete veio como principal destaque. Vestida de amarelo, a cantora entoava o samba-enredo com vibração e não escondia a emoção.
“Eu estou muito bem. Estou no braço do meu povo Pedreirense, estou em casa”, disse dona Onete, a homenageada pela escola.
Aline Silva, rainha da bateria do Piratas da Batucada estava vestida de rainha do Carimbó. “Não tenho explicações. Eu dou minha vida por essa escola e estar hoje aqui é um mar de sentimentos”, disse.
9 - XODÓ DA NEGA
Já era manhã de domingo, 24, quando a Associação Carnavalesca Xodó da Nega encerrou o segundo dia de desfile das escolas do 1° grupo do Carnaval de Belém, na Aldeia Amazônica, no bairro da Pedreira. A escola, a nona a desfilar, apresentou o enredo “Oi, dá licença que vamos mostrar a X-9 em Belém do Pará”.
Alguns dos principais enredos da escola paulistana foram apresentados pela agremiação, do bairro da Cremação, entre eles o município de Belém, tema da escola em 2016.
Mesmo sendo a última escola, a Xodó não perdeu o pique e dançou e cantou todo o enredo do início ao fim da avenida.
A bateria empolgou o público que permaneceu na Aldeia Amazônica e emocionou a rainha de bateria da escola. “É uma escola na qual tem uma comunidade linda e que me recebeu de coração aberto e hoje estou dando meu sangue na avenida”, finalizou Dylen Elisabeth.
Fundada em 01 de maio de 1989, a Associação Xodó da Nega é tradição no bairro da Cremação. Durante os ensaios, reuniu centenas de moradores da comunidade que acompanharam todo o trabalho feito pelos integrantes da escola.
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