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Bairro do Paar, que um dia já foi a maior invasão da América Latina, completa 30 anos

Há 30 anos o PAAR deixava de ser considerado uma “invasão” para se tornar, oficialmente, um bairro do município de Ananindeua

Daleth Oliveira
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Há 30 anos o PAAR deixava de ser considerado uma “invasão” para se tornar, oficialmente, um bairro do município de Ananindeua. Na década de 80, uma área de propriedade do Estado destinada à construção de um conjunto habitacional voltado para famílias de baixa renda, que seria denominado “Conjunto Habitacional Pará-Amazonas-Acre-Rondônia” (PAAR), foi ocupada.

Dayseanne Ferraz, historiadora e professora da Universidade da Amazônia (Unama), explica que antes de invadido, o bairro seria quatro conjuntos da cidade. “Nas décadas de 70 e 80 foi iniciada a urbanização de Ananindeua por meio dos conjuntos, e nesse contexto, foram inauguradas os Cidade Nova. Além da casa própria, o Estado também tinha a promessa de entregar toda uma infraestrutura e desenvolvimento para o espaço, dando condições para famílias viverem ali”, conta.

A doutora em antropologia descreve ainda que, antes de serem construídas as primeiras casas, a área foi invadida e, de forma desordenada, expandiu-se geograficamente, chegando a ser considerada, na década de 90, a maior área de ocupação da América Latina. Entretanto, no dia 15 de setembro de 1991, durante o governo de Jader Barbalho, a Justiça decidiu pela não retirada do povo considerado invasor e determinou que o Estado estruturasse e organizasse os conjuntos, marcando assim, o dia da regularização do espaço habitado por mais de seis mil famílias.

Lar, doce Paar

Há 28 anos, Zuleide da Silva escolheu o PAAR para ser o lar de sua família, onde marido, filha e uma cachorrinha vivem em harmonia. Para ela, o bairro é ótimo para viver e não tem vontade de morar em outro lugar. “Eu gosto de morar no PAAR. Quando eu cheguei aqui, logo percebi que era um lugar tranquilo para se viver e o bom que tudo a gente tem perto”, conta.

“Tem gente que tem preconceito e vergonha de dizer que mora aqui, acredito que por já ter sido considerado uma invasão. Mas eu tenho orgulho”, completa Zuleide, que é mais conhecida na comunidade como Dona Zuca.

A senhora de 52 anos trabalha como professora de artes marciais e, por gostar tanto do bairro de sua comunidade, iniciou um projeto de aulas gratuitas para crianças de baixa renda. “Aqueles pais que não têm condição de pagar a mensalidade, ganham uma bolsa integral para seus filhos. Vejo que é uma forma de contribuir com o lugar onde eu moro”, explica.

Memórias

Questionada sobre acontecimentos que marcaram sua vida desde a chegada no bairro, Dona Zuca se emociona ao lembrar do que ficou conhecido como “Chacina do PAAR”. “Foi uma coisa muito bárbara, dolorida para todo mundo. Aconteceu logo quando cheguei aqui, me sinto mal até de me lembrar daqueles dias. Eu estava em casa e meus vizinhos avisaram que os policiais da delegacia foram assassinados”, conta.

A “Chacina do PAAR”, caracterizou-se por uma sucessão de fatos que se iniciou com a prisão de um homem, Joanilson, acusado de ter roubado uma bicicleta. Durante sua prisão, o suspeito teria sido agredido em público, espancado e torturado por policiais na delegacia. Fato que chegou ao conhecimento dos familiares do preso, dentre eles, seu cunhado Paulo Monteiro, conhecido como “Paulo Mapará” por estar, na época, envolvido com crimes de grande repercussão.

Quinze dias depois, durante o plantão noturno dos mesmos policiais que prenderam Joanilson, cinco homens armados entraram na Delegacia do PAAR e mataram três desses policiais: um delegado e dois investigadores. Em resposta, as polícias civis e militares organizaram-se, com cerca de duzentos policiais, e, após identificarem os acusados, executaram, em sequência, três desses homens: Ronaldo Monteiro, Martinho Ferreira e “Paulo Mapará”.  Após isso, o corpo de “Paulo Mapará”, o último a ser morto, foi colocado na mala de um carro da polícia e exposto pelas ruas de Belém, como forma de mostrar o “dever cumprido”.

O ocorrido foi responsável pela família de dona Zuca pensar em morar em outro lugar, pois, segundo ela, foi um trauma difícil de superar. “No começo eu fiquei com muito medo. As pessoas temiam sair nas ruas e acontecer algo com elas. Pensei em sair daqui, mas depois eu resolvi seguir em frente e nunca mais passamos por isso”, finaliza.

Motivos para celebrar 

Para a professora Dayseanne, o PAAR, que hoje é um dos bairros mais populosos de Ananindeua, tem muitos motivos para celebrar. “Esses trinta anos representam uma trajetória de resistência das pessoas que lutaram pelo direito da casa própria e conquistaram toda a infraestrutura que o bairro tem hoje, então tem o que comemorar. Tudo o que os moradores têm não são benefícios do poder público, mas sim resultado de conquistas da comunidade”, diz a historiadora.

Manuel Oliveira, presidente do Conselho Comunitário do PAAR, mais conhecido como Seu Duca, durante sessão solene em homenagem aos 30 anos do PAAR na Câmara Municipal de Ananindeua no dia 5 de outubro, concordou que o bairro acumula desenvolvimento. “Nós já temos 12 escolas públicas, 14 associações, mais de 40 igrejas, 12 escolas particulares, três feiras livres, um mercado de pescado, uma delegacia, sistema de tratamento de água, uma unidade de urgência e emergência, entre outras conquistas”, discursou na plenária.

Apesar das vitórias, Manuel também pontuou as necessidades da comunidade, dentre elas, construção de um centro lotérico, instalação de uma agência bancária, novos semáforos em vias movimentadas, asfaltamento de ruas e melhorias em postos de saúde.

 

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